A renúncia de Bento XVI pode ser tema dos vestibulares de 2013 por
envolver disputa de poder no Vaticano e sérias denúncias contra membros
do clero.
anúncio da renúncia do papa Bento XVI,
realizado em 11 de fevereiro de 2013, causou certa surpresa no mundo
católico. Não é uma situação usual um papa renunciar ao mandato, já que
geralmente a sucessão ocorre após a morte de cada um deles. O último
caso aconteceu com o papa Gregório XII (1406-1414). Mas segundo um
estudo realizado pelo professor de História da Igreja e cônego da
catedral de Barcelona (Espanha), Josep María Martí Bonet, houve na
história da Igreja católica a renúncia de 22 papas. No caso de Joseph Ratzinger, de 85 anos,
os motivos alegados foram a debilidade física pela qual ele passa, o
que o impossibilitaria de continuar a executar as funções exigidas pelo
cargo.
Joseph Ratzinger, ou papa Bento XVI, renunciou ao pontificado após sete anos no cargo.*
Pelo caráter inusitado da renúncia e as
mobilizações políticas no mundo católico para a escolha do sucessor de
Bento XVI, pode-se colocar esse assunto como tema dos vestibulares a
serem realizados no ano de 2013. E isto tanto para as provas de história
quanto para os temas a serem possivelmente tratados nas provas de
redação.
Nesse sentido é interessante que o
vestibulando estude alguns aspectos que envolvam a sucessão papal,
levando em conta os posicionamentos da doutrina religiosa defendida por
Bento XVI, os problemas políticos enfrentados pelo Estado do Vaticano e
as denúncias que vêm assolando a Igreja católica há alguns anos, além, é
claro, da própria história da igreja. Abaixo será exposto de forma
resumida cada um destes aspectos.
No âmbito da história da Igreja católica
é interessante que o vestibulando saiba que a Igreja católica se tornou
a religião oficial do Império Romano em 390 d.C., medida adotada pelo
imperador Teodósio, depois da aproximação com os cristãos efetuada por
Constantino, que havia autorizado os cultos cristãos em 313. Outro fato
histórico importante foi a divisão da Igreja que ocorreu em 1054, o
Cisma do Oriente, criando a Igreja Romana de um lado e a Igreja Ortodoxa
Bizantina de outro.
Além disso, durante a Idade Média, a
Igreja se tornou o grande centro do poder na Europa Ocidental,
aliando-se aos povos bárbaros e participando de grandes Impérios como o
Carolíngio e o Sacro Império Romano-Germânico. A Igreja buscou controlar
a população europeia através da doutrina religiosa e da dominação
econômica, já que era a maior proprietária de terras do ocidente durante
a Idade Média.
A criação do Tribunal do Santo Ofício,
conhecido como Tribunal da Inquisição, foi uma das formas encontradas
pela Igreja para reprimir os posicionamentos contrários aos seus dogmas.
Principalmente no contexto de surgimento da Reforma Religiosa, cujos
expoentes principais foram Martinho Lutero e João Calvino.
Outro conhecimento necessário ao
vestibulando é a criação do Vaticano através do Tratado de Latrão
(1929), pelo qual o ditador italiano Benito Mussolini concedeu um
pequeno território na cidade de Roma para ser a sede do Estado do Vaticano.
O regime político desse Estado é uma
monarquia, cujo chefe é o papa, exercendo seu governo de forma
vitalícia. Há debates que afirmam que a verdadeira razão pela qual Bento
XVI tenha renunciado esteja de fato ligado a fatores políticos pela
disputa de poder no Vaticano, e não apenas a problemas de saúde. Esse
aspecto poder ser utilizado para os temas de redação dos próximos
vestibulares e pretende-se aqui apresentar em linhas gerais essa disputa
pelo poder.
Joseph Ratzinger
conseguiu posições de destaque na hierarquia da Igreja desde o
pontificado de João Paulo II (1978-2005), quando foi o prefeito da
Congregação para a Doutrina da Fé, novo nome do Tribunal da Inquisição.
Em volta de Ratzinger estavam os grupos conservadores que sustentaram o
papado de João Paulo II, como a Opus Dei, a Fraternidade de Comunhão e
Libertação, Focolares, o Neocatecumenal e os Legionários de Cristo,
sendo que os dois primeiros são os mais fortes. Esse posicionamento
conservador se notabilizou por se opor às tendências mais progressistas
da Igreja, que pretendiam auxiliar na resolução dos problemas sociais
pelos quais a população pobre passava. O fortalecimento dessa tendência
progressista se deu no Concílio Vaticano II (1962-1965). O objetivo de
João Paulo II, Bento XVI e os demais grupos era acabar com esse
direcionamento de ação, fortalecendo a doutrina ortodoxa e combatendo os
governos dos países ligados à antiga URSS.
Com o início de seu mandato, em 2005,
Bento XVI tratou de colocar nos postos-chaves da administração do Estado
do Vaticano membros desses grupos. Mas ao colocar o membro de um grupo
em um posto, Bento XVI passou a desagradar os outros. Além disso, ele
adotou formas para essas nomeações que diferiam das usadas
tradicionalmente pelo Vaticano. Um exemplo foi a nomeação do membro da
Opus Dei, Ettore Gotti Tedeschi, para o Instituto de Obras Religiosas
(IOR), o banco do Vaticano. Tal nomeação gerou oposição do cardeal
Tarcísio Bertone, secretário de Estado do Vaticano, que, por sua vez,
foi nomeado para o cargo de Secretário, mesmo não sendo oriundo da área
diplomática, uma tradição nas nomeações para o cargo.
Ratzinger foi um dos grandes teólogos do
período do papado de João Paulo II, defendendo posições ortodoxas no
que se refere à doutrina cristã católica. Essas posições conservadoras
resultaram, por exemplo, em liberar a celebração de missas em latim,
novamente. Ratzinger defendia ainda uma orientação doutrinária mais
ligada às questões do espírito do que aos problemas sociais. Esse
posicionamento, apoiado por vários grupos conservadores, resultou no
combate à Teologia da Libertação, vertente progressista da Igreja
Católica que ganhou força após a década de 1960.
Bento XVI governou a Igreja apoiado pelas forças conservadoras, mas as
denúncias de pedofilia e as disputas políticas podem ter gerado sua
renúncia.**
Mas esse conservadorismo e ortodoxia
contrastam com as várias denúncias que assolam o corpo eclesiástico da
Igreja católica no mundo. O principal foco são as denúncias de pedofilia
cometidas por clérigos católicos e as tentativas de abafar os casos
julgados, como os que ocorreram nos EUA e na Holanda. O jornal italiano
La Repubblica chegou a afirmar que o motivo da renúncia foi a descoberta
de uma rede de prostituição que funcionava dentro do Vaticano. A
descoberta foi resultado de uma investigação ordenada pelo próprio Bento
XVI. Anteriormente, em 2012, houve o vazamento de uma série de
documentos oficiais do Vaticano que expôs os bastidores do poder do
Estado católico, situação conhecida como Vatileaks. O responsável pela
divulgação dos documentos teria sido um mordomo de Bento XVI, que chegou
a ser preso pela polícia do Vaticano.
É devido à grande quantidade de fatos
que colocam em questão o poder dessa milenar instituição religiosa que
há possibilidades da renúncia de Bento XVI ser tema dos próximos vestibulares.
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